ZÉ MANDUCA

Por: Shmuel Yerushalmi 28/01/2018

Nunca soubemos o nome real dêle, para nós, nas Machanot do Rio, era sempre o Zé Manduca. Sempre afável, prestativo, e disposto a ajudar.
O Manduca era o encarregado da manutenção da Fazenda Palacete, em Petrópolis, onde por vários anos realizavam-se as Machanot do Movimento, no verão e no inverno. Pela sua aparência, ele devia ser descendente de Europeus, talvez até mesmo alemães, bem comuns na região: tez clara (apesar de queimado pelo sol), olhos azuis, cabelos meio ondulados, mais tendendo para lisos.
Nós, da parte técnica, nos dávamos muito bem com êle, e sempre que podíamos, lhe levávamos mantimentos, enlatados salgados e doces. Ficávamos horas e horas na cabana dele, ouvindo histórias e passagens de acontecimentos regionais.
A sua choupana situava-se adjacente ao pátio do hasteamento das bandeiras, um pouco dentro da floresta, ao lado de uma pequena corrente dágua permanente. Êle mesmo a construiu, usando toros de madeira (canela) nos 4 cantos. Quando nos servia chá, ele cortava com a sua peixeira (grande facão), chispas da canela e as fervia.


Suas refeições eram baseadas na caça de aves e tatús e as frutas da redondeza. Várias vezes comemos tatús fritos na cebola (uma gostusura), mas nunca conseguimos ver o que comíamos, por causa da escuridão na sua cabana. Só uma vez, à luz do dia, vi o guizado, e nunca mais quis comer o tal do tatú.

Ele beirava, na época, por volta dos 40 anos, mas tinha muita experiência em medicina natural; numa ocasião, quando me feri com um corte na perna, ele preparou uma poção de criolina com mais algum líquido, e me disse para passar no corte com uma pena de ave, que ele me deu; em 3-4 dias estava curado !!!

Quando Sara e eu visitamos o local em 2002, a zeladora Dona Zélia nos levou ao local onde ele morava; a cabana já não mais existia, e o local estava tomado pela floresta, assim como o resto da área onde estavam os dormitórios e as outras construções das Machanot.

O Manduca tinha falecido 3 anos antes, mas a Dona Zélia contou que ele se lembrava sempre de nós, pelos nomes.

Uma época que não volta mais …

Jerusa (Shmuel Yerushalmi)

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