Acabo de ouvir, em transmissão pelo You-Tube ( https.//youtu.be/kvWDAMzBhT4 ) uma longa entrevista com a prestigiada historiadora e antropóloga brasileira Lilia Schwarcz.
A entrevista toca em assuntos de relevância para a realidade brasileira, mas que se projetam também sobre o panorama global, com especial agudez despertada pelas condições criadas pela epidemía de Corona.
A entrevista percorre com erudição, sensibilidade e inteligência terrenos como a discriminação racial, a opressão feminina, a intolerância – com foco nas origens históricas da escravidão e seu perdurar na situação de inferioridade em que – também no Brasil – se encontram os cidadãos de raça negra.
Na entrevista, nada revela a identidade judaica da historiadora, e ao dedicar atenção a problemas humanos de caráter universal ela se inclúe na longa lista de autores, intelectuais, pensadores, artistas e politicos judeus cuja contribuição à cultura ocidental é de altíssima importancia, não necessariamente identificada com a pertinência ao determinado grupo social.
Mas meu pessoal interêsse pela entrevista decorreu menos de uma especial curiosidade pelos assuntos abordados, do que pelo fato de que a entrevistada é filha de uma velha querida amiga de família, dona de longa tradição de ativa solidariedade sionista, e, como eu, originária da emigração judaica italiana para o Brasil na época da segunda Guerra mundial.. Ela foi integrante convicta e militante de nosso movimento Dror, do qual se desligou na última etapa, que precedía a iminente Aliá..
E embora repetindo minha apreciação pelo conteúdo, pela largueza de horizontes, pelo profissionalismo de análise revelados na entrevista da historiadora, devo confessar que experimentei uma certa decepção por não sentir nela qualquer éco dessas raízes, que eu considero de profunda influência na cristalização de uma visão e de um caminho de vida, fazendo-me encarar aquilo que escapa do riquíssimo e empenhativo campo judaico (e hoje de seu sofrido espelhar israelense) como amadorismo, talvez como uma ilusão de autêntica integração no ambiente gentío.
Endereço estas consideraões para os chaverim do Dror Habonim, pois vejo uma semelhança de atitudes em aspectos publicados no boletim do movimento “Haboletter”, onde compreensíveis acentos em problemas da realidade brasileira que preocupam os companheiros, não são suficientemente equilibrados por uma busca de opinião quanto à realidade israelense – não menos necessitada de um posicionamento crítico e ideológico iluminado pelos critérios que a tradição do movimento criou.
Vittorio Corinaldi, 12/7/2020