Dreyfus-Herzl-Dines

Por: Nelson Burd 15/07/2020

Originalmente publicado em conexaoisrael.org em 28/05/2018

Jornalista é quem registra o fato, reporta a informação. Não, necessariamente, emite opiniões. Pelo contrário, as preserva para si. Deixa que o receptor construa suas próprias impressões. O brasileiro Alberto Dines viveu durante 86 anos. Durante a carreira, primou pela ética e postura profissionais. Trata-se de alguém admirado por contemporâneos, respeitado pelos mais jovens. Um exemplo.

Ao escrever e editar livros, Dines se tornava analítico e propagador da História. Passava ao leitor conteúdos que, talvez, precisassem de abordagem mais profunda. Algo que um repórter sabe, como ninguém, praticar.

Em 1995, ele organizou e publicou os “Diários Completos do Capitão Dreyfus”. Trouxe à tona caso de espionagem, traição e antissemitismo ocorrido na França, durante o século XIX.

Por ser judeu, o militar francês Alfred Dreyfus foi bode expiatório e acusado injustamente de repassar para inimigos “informações secretas”. O caso ganhou repercussão continental, à época, e um jornalista austro-húngaro foi cobrir o evento, direto de Paris.

Theodor Herzl, assim como Dines, era israelita, oriundo de uma família atuante na sua comunidade local. Esta teria sido apenas mais uma pauta cotidiana, se um choque de identidades não o abalasse.

Populares saíam às ruas da França gritando: Morte aos Judeus! A acusação contra Dreyfus levaria a culpa para toda uma congregação. Não seria individual e intransferível.

Herzl pensou na própria vida, seus familiares e amigos, antepassados errantes pela diáspora e escreveu a obra “Judenstaat”, O Estado dos Judeus (mal traduzida como O Estado Judeu). O foco central era “concluir que somente em uma pátria judaica, ou com maioria deles, não ocorreriam casos de perseguições racistas, como a presenciada em Paris.

A partir daí, em 1897, houve o Primeiro Congresso Sionista, alavancando o movimento moderno de autodeterminação judaica. O jornalista comandando a empreitada.

Dines nasceu 28 anos após a morte de Herzl. Foram colegas de profissão, em tempos e espaços distintos. O Caso Dreyfus é um elo forte que os une. Não o único.

Alberto pertenceu ao Movimento Juvenil Judaico Sionista Socialista Dror, durante as décadas de 1940 e 50. Pretendia realizar a ideologia do grupo dentro de um Kibutz, em Israel. Foi membro atuante por muitos anos, mas o destino o manteve no Brasil.

Iniciou no Jornalismo através de Nahum Sirotsky, no Rio de Janeiro, e construiu capítulo singular na profissão. Esteve em Israel algumas vezes. Demonstrava orgulho e saudosismo ao relembrar os tempos de Dror.

Talvez, ao publicar os diários de Dreyfus, Dines homenageou o trabalho jornalístico, que tanto honrou e, ao mesmo tempo, atacou o mesmo antissemitismo sofrido por Herzl, cem anos antes.

Links:

Diários Completos do Capitão Dreyfus
https://www.amazon.com.br/Di%C3%A1rios-completos-do-capit%C3%A3o-Dreyfus/dp/8531204003

Alberto Dines
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alberto_Dines

Theodor Herzl
https://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_Herzl

Alfred Dreyfus
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_Dreyfus

O Estado Judeu
http://www.bibliologista.com/2015/10/o-estado-judeu-de-theodor-herzl.html

Foto: Arquivo Conexão Israel (Artigo “Eu Acuso”, de Emile Zola, importante no Caso Dreyfus).

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