No dia posterior à última grande manifestação dos trabalhadores independentes e assalariados em Tel Aviv, li o artigo da Professora Sheri Berman da Universidade de Columbia intitulado –Crises Only Sometimes Lead to Change. Here’s Why.
Segundo ela é fácil supor que as crises desencadeiam o colapso de uma ordem existente e sua substituição por uma nova. Mas essa visão é fundamentalmente falha, pois não se encaixa no registro histórico.
Ela cita, em pleno século XXI, o que escreveu Trotsky, em 1932: A “mera existência de privações não é suficiente para causar uma insurreição; se fosse, as massas estariam sempre em revolta. Em vez disso, argumentou, “é necessário que a falência do regime social, sendo conclusivamente revelada, torne essas privações intoleráveis”. E só nesse ponto, segundo sustenta Trotsky, poderia “novas condições e novas ideias … abrir a perspectiva de uma saída revolucionária”.
Trotsky, como todos os revolucionários, entendeu que algumas crises levam a
transformações duradouras, enquanto outras não. E a história dá lições para aqueles que acreditam ou esperam que esta crise seja uma daquelas na qual acreditam
Concretamente, isso significa que os principais determinantes de se as crises e o descontentamento desencadeiam a transformação são políticos: em particular, a capacidade de formular um plano de ação concreto e coerente e o poder para executa-lo são necessários. Sem acordo sobre que tipo de nova ordem que deve substituir a antiga, os movimentos de oposição facilmente entram em colapso, em lutas internas e o descontentamento progressivamente diminui. E se tais planos não forem defendidos por uma força política com o poder de implementá-los, boas ideias podem permanecer notas de rodapé para a história, e o status quo pode facilmente reafirmar-se.
A história ensina que novas ideias e a mobilização do descontentamento são necessárias, mas não suficientes para desencadear a transformação. As ideias precisam ser forjadas em críticas coerentes da antiga ordem, bem como planos atraentes e viáveis para uma nova. E os defensores da transformação necessitam unir-se em torno desses planos para evitar lutas internas, a dissipação do descontentamento e a reafirmação dos defensores do status quo. Só assim podem ganhar e manter o poder necessário para implementar planos para transformações à longo prazo.
Recuando no tempo, a chamada “protesta social “de 2011, caracterizada como “apolítica”, concluiu em nada. Visto em retrocesso, se produziu mudanças, estas foram para pior. A protesta atual não aprendeu nada do passado. Pelo visto não há hoje nenhuma força com capacidade de aprender do passado, muito menos de projetar algo novo para o futuro.
Talvez ainda há alguma esperança. Correntes radicais no Partido Democrático Americano não só são cada dia mais dominantes no seio do Partido, mas também elaboram uma visão de futuro. Se os Democratas chegarem ao poder executivo e legislativo nas próximas eleições, talvez poderão provocar mudanças. Não será o fim do capitalismo americano, mas eventualmente uma versão mais atenuada do New Deal. Se isso ocorrer, será lá e não aqui.
No passado, os pontos de virada históricos não foram o resultado apenas de crises, mas sim de forças capazes de se aproveitar delas. E tirar vantagem de uma crise requer saber o que se quer alcançar e como fazê-lo (não basta a ingenuidade do promotor do movimento das “Bandeiras Negras” afirmar que a manifestação de 14 de julho, frente a residência do Primeiro Ministro, veio marcar a Queda da Bastilha!)
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