Por Mauro Nadvorny (Ex-Maskir Artzi)
Quando voltei ao Brasil em 1986 depois da primeira Aliá, prometi a mim mesmo retornar logo em seguida. Queria estudar, a fila no Kibutz era de 10 anos. Pensei que poderia ir ao Brasil, terminar os estudos em até 6 anos e voltar. Planos econômicos malucos e outros problemas fizeram com que o tempo de estudos, meu e da Sandra levassem mais tempo. A promessa de retornar era validada sempre para o ano seguinte até que 32 anos depois voltamos de mala e cuia, chegamos em 2018.
Durante minha permanência no Brasil nunca deixei de ser sionista, e nem socialista, duas marcas que carrego comigo graças ao Ichud Habonim. Continuei lutando por democracia no Brasil contra o regime militar e sempre fui um crítico contumaz dos governos de direita em Israel. Sou um antifascista convicto e mantive acesa em mim a chama pelos Direitos Humanos.
Israel chegou aos 75 anos com uma forte crise política. Somos um país sem uma constituição, o que por si só é um grande atraso e cria enormes problemas. Nosso sistema parlamentarista permite com que dois poderes estejam fundidos em um só: legislativo e executivo são basicamente um poder único, já que os membros do governo são membros do parlamento, incluído o primeiro ministro. O único poder no contrabalanço é o judiciário e o atual governo achou que deveria ser incorporado aos outros dois, em resumo, tornar Israel uma ditadura.
O que seria impensável há poucos anos atras, virou um pesadelo com centenas de milhares de manifestantes saindo as ruas aos sábados a noite, e dezenas de milhares participando de atos contra a manobra governista quase todos os dias da semana por todo o país. Uma luta necessária.
Somos por um lado uma país maravilhoso, pujante, de gente criativa, inovadora que trouxe e continua trazendo invenções e descobertas científicas que beneficiam toda a humanidade. Por outro, um país racista que ocupa um território que não lhe pertence e mantém um conflito que custa vidas humanas todos os dias sem nenhum projeto de acordo para pôr fim a ele.
Temos partidos fascistas na Kneset, o que nos iguala a outras nações democráticas ao redor do mundo. No entanto, nenhuma delas passou pelo Holocausto, uma lição de vida e de heroísmo que é lembrada anualmente no país, mas que é esquecida em sua essência pelas novas gerações.
O Ichud Habonim foi um movimento juvenil que marcou a história da comunidade brasileira. Foi o maior movimento e o único a criar um Kibutz em Israel, Bror Chail. Atravessou a ditadura militar mantendo suas origens sionistas-socialistas. Quando da tentativa de um segundo meshek aliá, nos foram oferecidas diversas opções de kibutzim jovens fora da linha verde, que não foram aceitos. Nunca concordamos com a ocupação dos territórios.
outras postagens:
- None Found