Na “HAFLAGÁ DA LAPA “, em Maio de 1950, decidiu-se que os chaverim abandonariam os seus estudos superiores em prol da dedicação integral no Movimento. Alem disso, houve a orientação da profissionalização de quem já estava na faixa etária adequada, ou seja, chaverim estudariam profissão e/ou iriam trabalhar como operários.
Os Snifim começaram a se organizar, assim foi tambem no Snif Rio. Alguns chaverim foram estudar na Escola Técnica Nacional, que formava profissionais em nivel paralelo ao Curso Científico. Éramos cerca de 7-8, recordo-me de: Chaim Engiel, Salomão Fridman e Manuel Zauberman (meu grande amigo de infância), todos comigo da Kvutzá Eliahu Golomb, Boris Kotler, Ozer Fogel e Dadinho (David Faingelernt).
Na época eu estava cursando o primeiro ano Científico no Colégio Hebreu Brasileiro; chegando o fim do ano letivo, matriculei-me na Escola Técnica na especialização de Eletrotécnica. Eu já tinha adquirido experiência em eletricidade e conserto de rádios e televisores, na verdade já estava iniciado na profissionalização, de modo que foi uma passagem bem natural para esta forma de aprendizado.
Na Escola Técnica estudavam-se várias especializações: Mecânica e Máquinas, Química Industrial, Edificações e Eletrotécnica. Haviam mais de 80 alunos atendendo as aulas, que eram divididas em Matérias Gerais (Física, Química, Geografia, Higiente Industrial, Inglês, etc.). Nas matérias especializadas, os grupos eram menores e estudavam em separado.
Uma das matérias que quase todos odiavam e temiam era a Química; havia um Professor, Henrique de Paula Bahiana, seco e insosso como sopa sem sal. E a Química não era fácil, por causa da necessidade de decorar uma série de tabelas, fórmulas e combinações dos elementos.
Para mim, pessoalmente, não havia problema, por ter cursado a matéria durante um ano, com um bom Professor no Colégio Hebreu, o Professor Simas. O Professor Bahiana logo percebeu isto e constantemente me chamava para vir em frente da classe e escrever as fórmulas no quadro negro.
“Seu Samuel, venha à lousa, escreva as fórmulas do Ácido Sulfúrico, Cloreto de Sódio, Bicarbonato de Potássio”, e por aí afora.
Mas eu não era arrogante, e nas provas sempre achava uma forma de ajudar os colegas, passando tiras de papel com as fórmulas.
No fim do primeiro semestre, para distribuir as notas, o Professor tinha um assistente, o Seu Cardoso; ele saia da sala de aulas, ia para o corredor até o fim, e então o Professor saia na direção oposta, com receio da reação dos estudantes ao receberem notas baixas.
Uma vez o Professor apareceu com 2 grossos compêndios (quase 10 centímetos cada), e disse que ia mostrar “a Química dêle”, que ele editou.
Uma outra vez, no meio da aula, de repente, ele pergunta: “Seu Samuel, quem foi que inventou a Química?”
E eu, sem muito pensar, levantei minhas 2 mãos com os braços estendidos, apontanto para o Professor, e ao mesmo tempo, inclinadas para o teto, e disse:
“ FOI O SENHOR !!! “, com o duplo significado – o SENHOR Professor, e o SENHOR, o Criador.
Houve 2 segundos de silêncio total na classe, e de repente, de uma vez só, todos cairam numa estrondosa gargalhada e bateram palmas sem parar.
E esta foi a primeira e única vez que vi o Professor sorrir.
Jerusa (Shmuel Yerushalmi)
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