Chegamos em Bror Chail em fim de Junho de 1956, no auge do verão israelense.
A época era um período tenso da segurança nacional; grupos de infiltradores árabes, chamados “Fedayun”, provenientes da Faixa de Gaza rodavam por várias regiões do pais.
Bror Chail era considerado Kibutz fronteiriço, situado a 7 kilômetros da Faixa de Gaza. Os “Fedayun” faziam o percurso ao longo de wadis (leitos de rio seco), da Faixa de Gaza (controlada pelo Egito) até a Transjordânia, armados, roubando o que podiam no caminho, e muitas vezes atacando a população em emboscadas. Um dos wadis era limítrofe com o Kibutz. Já tinham roubado até canos de irrigação.
Os chaverim brasileiros no Kibutz quase que não tinham experiência militar, incluindo uso de armas. Dois dos chaverim, Eli (Lily) e Luci Surur, dois irmãos da aliá do Movimento Egípcio, que fundou Bror chail em 1948, tinham feito o serviço militar, e junto com o Pinchas Falbel eram os instrutores para nos preparar para possíveis eventualidades.
Nossa preparação constou do uso da pesada espingarda Checa, com a qual cada um atirou um ou dois tiros; os veteranos dos garinim anteriores que tinham servido na Nachal (unidade militar kibutziana), sabiam usar tambem pequenos morteiros, sub-metralhadoras “Sten” e “Uzi”, e uma metralhadora “MAG”.
Alem disso, tivemos um curto treinamento de perseguição de “Fedayun” ao longo de algumas colinas adjacentes ao Kibutz, e um exercício de mobilização de um dia (Timron) de todo o Kibutz, para testar os sistemas de defesa civil, com observadores vindos do Exército.
No limiar da Guerra do Sinai, o Kibutz iniciou a organização dos preparativos defensivos: foram cavadas trincheiras dentro do Kibutz, coordenou-se as formas de evacuação das crianças e dos recem-nascidos para os bunkers subterrâneos, armas indivivuais, munição e capacetes foram distribuidos entre os chaverim e parte das chaverot; todos estávamos muito apreensivos. Nosso filho Yoav tinha um mês e meio de idade.
Às noites a guarda era reforçada, com uma metralhadora posicionada na meia altura que cobria a área do vinhedo.
Em uma das noites percebeu-se que havia um movimento suspeito no vinhedo, eram “Fedayun” que estavam rodando por lá. Não se sabia quantos eram, qual a intenção dêles, se estavam simplesmente descansando antes de continuar caminho, ou se planejavam chegar até o Kibutz e atacá-lo.
Então o Comandante da equipe da metralhadora deu ordem de atirar; mas a metralhadora não funcionou – alguém tinha montado ao contrário a coberta por onde entravam as balas.
Aparentemente os “Fedayun” realmente tinham somente estacionado no local, no dia seguinte encontrou-se vestígios da sua passagem pelo vinhedo.
Que sorte !!! Todos ficamos comentando, “quem sabe o que poderia ter acontecido se a metralhadora realmente tivesse funcionado …”
Shmuel Yerushalmi (Jerusa)
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